Taurus: a fabricante de armas mais controversa do Brasil e sua ligação com a família Bolsonaro
Taurus: entre polêmicas, armas defeituosas e influência política
A Taurus Armas S.A., tradicional fabricante brasileira de armamentos, acumula décadas de atuação — e também de controvérsias.
Criticada por especialistas e forças de segurança por falhas graves de fabricação, a empresa conseguiu se manter como líder do setor no Brasil.
O que chama atenção nos últimos anos, no entanto, é sua estreita ligação com o projeto político da família Bolsonaro e o crescimento das suas ações durante o governo do ex-presidente.
Críticas à qualidade das armas
A má reputação da Taurus não surgiu do nada.
A empresa foi alvo de centenas de ações judiciais por falhas técnicas em seus produtos, incluindo casos em que armas dispararam sozinhas — mesmo travadas — resultando em ferimentos e mortes acidentais.
Alguns dos principais pontos de crítica incluem:
-
Defeitos recorrentes em modelos usados por polícias militares;
-
Acordos judiciais milionários nos EUA por conta de falhas de segurança;
-
Rejeição de lotes inteiros por polícias de estados brasileiros, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Apesar disso, a Taurus nunca deixou de figurar como fornecedora oficial do Estado brasileiro, o que levanta suspeitas sobre lobbies e influências políticas no setor de segurança pública.
A guinada política: Taurus e a ascensão do bolsonarismo
A partir de 2018, com a eleição de Jair Bolsonaro, defensor aberto do armamento da população, a Taurus passou a viver um renascimento político e econômico.
As ações da empresa se valorizaram com promessas de flexibilização do Estatuto do Desarmamento, e a empresa se tornou símbolo do discurso armamentista do governo.
Investigações da imprensa e dados oficiais revelam:
-
Doações eleitorais de dirigentes da Taurus a parlamentares da bancada da bala;
-
Relações com figuras próximas da família Bolsonaro, como Eduardo Bolsonaro, que já participou de eventos da Taurus e defende publicamente a marca;
-
Apoio institucional a medidas que favoreceram diretamente o aumento das vendas da empresa, como decretos que ampliaram a posse e o porte de armas.
Financiamento político: doações e lobbies indiretos
Embora a Taurus, como empresa, não possa legalmente fazer doações eleitorais desde 2015 (após a proibição do financiamento empresarial no Brasil), executivos, ex-diretores e associações ligadas ao setor armamentista têm sido canais paralelos de influência.
-
Entidades como a Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições (ANIAM) têm atuação próxima ao Congresso e à bancada da bala;
-
O próprio Instituto Defesa, frequentemente citado em apoio ao armamento civil, tem forte alinhamento ideológico com o bolsonarismo e promove campanhas que coincidem com os interesses da Taurus.
Essas conexões permitem a construção de um ecossistema que favorece politicamente a Taurus, sem a necessidade de doações diretas.
Brasileiros pagam a conta: armas ruins, gastos públicos e insegurança
Enquanto a Taurus lucra e suas ações disparam na bolsa, quem paga a conta é o cidadão brasileiro.
A aquisição de armas defeituosas com dinheiro público, os riscos à integridade de policiais e civis, e a politização da segurança pública geram um ciclo de ineficiência, desperdício e violência.
Além disso, o apoio incondicional à indústria armamentista enfraquece o debate sério sobre políticas públicas de segurança baseadas em dados e evidências — substituindo soluções estruturais por ideologia e interesses empresariais.
Entre a política e a bala, a quem serve a Taurus?
A trajetória da Taurus não pode ser dissociada do contexto político recente do Brasil.
Com histórico controverso de qualidade e envolvimento indireto com projetos políticos armamentistas, a empresa tornou-se símbolo de um Brasil dividido entre a promoção da segurança pública e o estímulo à militarização civil.
O papel da Taurus e de seus aliados precisa ser debatido com transparência — afinal, quando o lucro das armas se mistura com a política, a democracia e o interesse público podem sair feridos.