Chefe de espionagem demitido em meio a escândalo de espionagem cibernética.
O spyware Pegasus supostamente usado contra o movimento de independência catalã e as principais figuras do governo em Madri.
A Espanha demitiu o diretor do Centro Nacional de Inteligência (CNI), Paz Esteban, após dois escândalos de spyware.
Uma operação viu figuras-chave do movimento de independência catalã como alvo do programa de spyware israelense Pegasus, enquanto o outro esquema, supostamente de origem estrangeira, viu altos funcionários do governo de Madri também serem alvos de ataques “ilícitos” e “externos” com o mesmo software.
A ex-chefe de espionagem teria reconhecido na semana passada que sua agência havia espionado 18 membros do movimento de independência catalã com aprovação judicial, incluindo o presidente regional Pere Aragones.
As alegações de que Madri espionava políticos catalães pró-independência desde 2017 foram reveladas pela primeira vez por meio de uma investigação conjunta do Guardian e do El País em 2020, e com outras descobertas publicadas pela empresa de pesquisa cibernética Citizen Lab, com sede em Toronto, no início deste ano.
O governo espanhol disse que um ator “externo” espionou o primeiro-ministro Pedro Sanchez, a ministra da Defesa Margarita Robles e o ministro do Interior Fernando Grande-Marlaska, mas não quis nomear o culpado publicamente.
Robles, cujo departamento supervisiona a CNI, reconheceu que houve “deficiências” – incluindo o fato de que teria levado um ano para descobrir que três dos principais funcionários do país tiveram seus telefones invadidos – mas insistiu em se referir à mudança de pessoal como um “ novo passo” para a agência de inteligência, focando mais na substituta de Esteban, a veterana da CNI Esperanza Casteleiro.
“Ela conhece muito bem o centro, trabalha lá há quase 40 anos e está trabalhando para a Espanha”
Continuou a ministra da Defesa, acrescentando que esperava que os documentos que Esteban havia revelado perante o comitê do Congresso detalhando a vigilância dos funcionários catalães acabassem ser desclassificado para que a nação pudesse ver que todas as regras judiciais foram seguidas.
A forma como Madrid lida com os escândalos foi atacada por todos os lados.
Os conservadores acusaram o primeiro-ministro socialista de jogar Esteban debaixo do ônibus para agradar o movimento de independência da Catalunha.
Os líderes catalães insistiram que demiti-la foi “uma concessão ao bom senso”, enquanto o partido de esquerda Podemos exigiu garantias de que tais eventos não se repetirão.
Até a Anistia Internacional se manifestou, acusando Madri de usar a segurança oficial;
“como desculpa para encobrir possíveis violações de direitos humanos”.
O Pegasus, fabricado pela empresa israelense NSO Group, permite que o invasor espione remotamente o iPhone do alvo, além de assistir e ouvir através da câmera e do microfone.
Ele foi encontrado instalado nos telefones de ativistas e líderes da oposição política em todo o mundo, apesar da insistência de seus fabricantes de que foi vendido apenas para governos que desejam usá-lo para rastrear criminosos e terroristas.