O veterano esquerdista está de volta ao poder após uma vitória apertada, mas seu poder de trazer mudanças é muito limitado
Os resultados estão para a eleição presidencial do Brasil, que atraiu séria atenção internacional.
Luiz Inácio Lula da Silva, conhecido como Lula, venceu a disputa com 50,9% dos votos, contra 49,1% do atual presidente Jair Bolsonaro, o que está em linha com o que as pesquisas sugeriram que aconteceria.
Meu melhor amigo, que mencionei na minha última coluna sobre este tópico para felizmente não foi deixado em lágrimas desta vez, mas estava gritando no telefone de alegria.
E isso porque a vitória de Lula, como delineei, representa um grande avanço para o Brasil.
Isso significa que a divisão entre ricos e pobres tem chance de diminuir, que o país sul-americano tem chance de sair do mapa mundial da fome, que as pessoas podem desfrutar de serviços sociais ampliados e que o Brasil pode voltar ao seu lugar de direito como um grande jogador de poder no cenário político mundial.
Significa também, esperançosamente, a preservação da natureza do Brasil, ou seja, a floresta amazônica, comumente chamada de 'pulmões do planeta' por seu papel de bombear oxigênio para a atmosfera e expelir carbono.
Como observei semanas atrás em meu artigo, isso tem sérias implicações para a América Latina e o mundo em geral.
Isso significa um duro golpe para o imperialismo americano, dado o status de Bolsonaro como um cão de guarda do império ianque e seus projetos na região, como a desestabilização da Venezuela e a expansão da chamada Guerra às Drogas.
Também pode significar mais negócios para Pequim no continente sul-americano, por exemplo, se o Brasil aderir à Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) liderada pela China
Se você é alguém como eu que valoriza o multilateralismo, o desenvolvimento humano pacífico e a estabilidade global, então tudo isso é motivo suficiente para se alegrar.
Mas devemos frear nossas expectativas para manter uma perspectiva realista da situação e entender as limitações de um presidência Lula.
Como minha amiga e ex-colega Camila Escalante, que agora é correspondente da Press TV na América Latina, observou com muita razão antes desses resultados;
“o socialismo não está nas urnas no Brasil”.
Parafraseando sua observação, os brasileiros não apenas não buscavam uma reformulação fundamental de sua ordem social, como nem votariam se fosse uma opção.
O termo 'imperialismo', como ela descreveu, nem sequer estava em uso durante esta última campanha presidencial, e as pessoas não estão exigindo reformas fundamentais da ordem de classe de seu país, muito menos da América Latina como um todo.
De fato, existem movimentos sociais que usam esse tipo de linguagem – mas não estão formando governos no Brasil ou em qualquer outro lugar da América Latina, além de quatro países.
Como os dados da pesquisa indicam, ela observou, muita gente nem mesmo se comprometeu a apoiar o Partido dos Trabalhadores (PT) além de Lula, o que sugere que sua vitória exigia se conectar com pessoas que não se consideram tradicionalmente 'de esquerda' ou 'certo'.
E isso se refletiu de fato na maneira como ele fez campanha em algumas questões, como o aborto, onde fez propostas à Igreja Católica enquanto alienava os esquerdistas ao dizer, por exemplo;
“ninguém quer regulamentação como Cuba”.
Claro, se você não achava que Lula era tolerável para as grandes massas fora dos clubes do livro esquerdistas, então não procure mais do que o fato de que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, rapidamente parabenizou Lula por sua vitória.
Embora seja fácil ignorar esse tipo de coisa, e de fato elas são bastante típicas, a velocidade com que essa declaração foi emitida cumpriu um papel fundamental – legitimar Lula.
Isso é importante porque o acampamento de Bolsonaro estaria plantando as sementes para um escândalo de fraude eleitoral, muito parecido com a estratégia usada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no período que antecedeu o motim do Capitólio de 6 de janeiro.
De alguma forma, a eleição do Brasil nos transportou para uma realidade alternativa onde os Estados Unidos e suas agências de inteligência associadas, como a CIA, não estão tentando patrocinar um golpe de direita em um governo latino-americano.
Como querem os bolsonaristas, mesmo que conseguisse os Estados Unidos não apoiaria como também criaria Dificuldade para o governo brasileiro fazer negócio no exterior.
Na verdade, a reação da Casa Branca sugere o contrário.
Os Estados Unidos estão tentando impedir isso antes mesmo que possa ocorrer, tentando monitorar os movimentos bolsonaristas como os seus líderes e isso é bastante 180, dado o papel suspeito dos Estados Unidos na sentença de prisão de Lula por acusações de corrupção forjadas e a expulsão de sua aliada , Dilma Rousseff, do gabinete da presidência no que foi um claro golpe brando da direita e do grupo político.
Isso levanta a questão de por que os Estados Unidos deixariam de ser hostis ao governo Lula para o apoiarem ostensivamente.
Isso porque, em primeiro lugar, como já mencionei, Lula não fez campanha em nenhuma plataforma que revolucionaria a sociedade brasileira, nem apontou o dedo para o império norte-americano.
Ele não é tão radical, especialmente em conjunto com seu companheiro de chapa de centro-esquerda.
Em segundo lugar, Lula ganhou muitos votos ao encontrar pessoas no centro – mas essas pessoas não votaram no PT além dele.
Isso significa que ele será muito limitado no que pode fazer do ponto de vista legislativo, dado que o Partido Liberal (PL) de Bolsonaro é o maior em ambas as câmaras do Congresso brasileiro, controla os principais governos em todo o país e goza de amplo apoio.
Isso quer dizer que pautas ligado ao aborto, drogas, Ideologia de gênero grupos minoritário não passará pelo congresso, sem falar que Projetos ligado ao PT poderá ser bloqueado ou até mudado no congresso.
Ele não vai pegar o congresso da época de 2004, muito menos consegue ter aliados fáceis como fez no passado, sem falar que o congresso poderá criar leis e projeto sem a aprovação dele caso vete um projeto.
O bolsonarismo aparentemente tem um apoio mais amplo do que as pesquisas sequer contabilizavam.
Então, da perspectiva de Washington, isso faz sentido.
Eles prefeririam ver o maior país da América do Sul mergulhar no caos e talvez empurrar mais migrantes para sua fronteira?
Ou estariam contentes com seu ex-inimigo ganhando uma eleição, mas sendo castrados quando se trata de governar?
Claramente, o último é um cenário mais desejável.
O fato é que a vitória de Lula é um avanço para o Brasil, mas muito, muito limitado.