Como o Brasil Poderia Sair do Sistema SWIFT Sem se Isolar da Economia Global
O sistema SWIFT (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication) é o principal mecanismo global de mensagens financeiras internacionais.
Controlado por interesses majoritariamente ocidentais e alinhados aos EUA, o SWIFT funciona como um instrumento tanto técnico quanto geopolítico.
Países como Irã e Rússia já foram excluídos, sofrendo sanções econômicas severas.
Diante desse cenário, surge a pergunta: o Brasil poderia abandonar o SWIFT sem ficar isolado?
A resposta pode estar na tecnologia financeira emergente — em especial no Real Digital e em redes de moedas digitais de banco central (CBDCs).
O Que É o SWIFT e Por Que É Tão Poderoso?
O SWIFT não movimenta dinheiro, mas transmite mensagens seguras entre bancos para iniciar transferências internacionais.
Como quase todos os países participam, a exclusão de uma nação significa, na prática, a interrupção de suas transações internacionais em dólar e euro.
Assim, o SWIFT se tornou um braço do sistema financeiro dominado pelos EUA e, muitas vezes, usado como ferramenta geopolítica.
Como o Brasil Poderia Reduzir sua Dependência do SWIFT?
1. Adoção do Real Digital com Interoperabilidade Internacional
O Banco Central do Brasil está desenvolvendo o Real Digital, uma moeda digital de banco central (CBDC) com base em blockchain permissionada.
Seu grande diferencial é a possibilidade de programar contratos inteligentes, além da transparência e rastreabilidade das transações.
Se o Real Digital for interoperável com outras CBDCs, o Brasil poderia:
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Negociar diretamente com parceiros estratégicos, como China, Rússia, Índia e países do BRICS;
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Realizar transações peer-to-peer internacionais, sem passar por intermediários como o SWIFT ou bancos correspondentes;
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Usar moedas digitais tokenizadas (stablecoins lastreadas em reais) para comércio exterior.
2. Integração com Plataformas Alternativas ao SWIFT
Alguns países já estão criando alternativas descentralizadas ao SWIFT, como:
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CIPS (China): usado pela China para transações em yuan;
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SPFS (Rússia): desenvolvido pelo Banco Central russo;
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BRICS Pay: um projeto em andamento entre os países do bloco BRICS para uma plataforma de pagamentos própria.
O Brasil poderia se integrar ou liderar essas redes alternativas, especialmente com a implementação do Real Digital.
Vantagens do Real Digital em Transações Internacionais
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✅ Transparência e segurança via tecnologia DLT;
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✅ Velocidade: liquidação em tempo real entre países parceiros;
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✅ Menores custos operacionais, eliminando taxas do SWIFT e bancos correspondentes;
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✅ Independência monetária: menor vulnerabilidade a sanções ou interferências políticas de terceiros;
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✅ Inovação: integração com contratos inteligentes e economia digital.
Riscos e Desafios
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⚠️ Risco de isolamento comercial com países ocidentais e empresas que ainda dependem do SWIFT;
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⚠️ Adoção limitada de outras CBDCs ainda em fase de teste;
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⚠️ Interoperabilidade técnica: sistemas precisam conversar entre si;
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⚠️ Pressões políticas e diplomáticas dos EUA e da União Europeia.
O Caminho do Meio: Dualidade Estratégica
O Brasil não precisa romper totalmente com o SWIFT, mas sim:
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Reduzir gradualmente sua dependência, especialmente em acordos bilaterais com países fora do eixo dólar-euro;
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Desenvolver parcerias com países que já adotam sistemas alternativos ou suas próprias CBDCs;
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Estabelecer uma política externa multilateral independente, alinhada a seus próprios interesses estratégicos.
Sair do SWIFT de forma precipitada pode ser desastroso.
No entanto, construir infraestrutura financeira paralela, moderna e soberana, baseada no Real Digital e em parcerias internacionais estratégicas, pode dar ao Brasil mais independência, segurança e poder de negociação no cenário global.
A transição não será imediata, mas começa com a coragem de inovar, planejar e investir em soberania tecnológica e monetária.